Depois
da vexatória campanha na África do Sul, em 2010, quando foi eliminada na
primeira fase da Copa em um grupo teoricamente fácil (Eslováquia, Nova Zelândia
e Paraguai), a sempre favorita e pragmática seleção da Itália chegou ao Brasil
com a responsabilidade de mostrar que a má campanha de 2010 fora apenas um
acidente já superado com a boa campanha na Eurocopa 2012, onde terminou como vice-campeã
derrotada pela, até então, imbatível Espanha.
Para
2014, a vida da tetra campeã mundial não seria das mais tranquilas. O sorteio,
realizado em São Paulo, pôs o time de Prandelli de frente com os ingleses e os uruguaios,
já consagrados com a conquista do título mundial, e a descartada equipe da
Costa Rica, julgada como provável saco de pancadas do grupo.
O
início foi o mais promissor possível. Com a vitória sobre a Inglaterra e a
derrota do Uruguai para a Costa Rica, o que poderia dar errado? Tudo. Derrotas
para Uruguai e Costa Rica nos jogos seguintes, ambas por 1x0, selaram um amargo
terceiro lugar no grupo e mais uma eliminação precoce da Azzurra em Copas do Mundo.
O
que deu errado dentro de campo?
1 – Três jogos, três times
Contra
a Inglaterra, Prandelli apostou no 4-1-4-1. Com De Rossi na proteção à zaga,
Candreva e Marchisio mais abertos pelas pontas e Darmian e Chiellini fazendo as
laterais, o time mostrou consistência. Candreva, Marchisio e Balotelli davam
trabalho aos ingleses. Darmian apoiava bem pela direita, coberto por Verratti,
enquanto na esquerda, Chiellini ficava mais recuado, liberando Marchisio e
Pirlo para se apresentarem mais ao ataque. O esquema deu certo. Os sustos
ficavam apenas por conta do zagueiro Paletta, o mais irregular da equipe na
partida.
No
confronto versus a Costa Rica, Thiago Motta entrou no lugar de Verratti, sendo
esta a única mudança no meio. Com características mais defensivas e menos
mobilidade, tornou Verratti uma ausência sentida. O 4-1-4-1 se manteve. As
principais mudanças vieram na primeira linha. Chiellini foi deslocado à zaga,
fazendo dupla com Barzagli. Nas laterais, Abate assumia a direita enquanto Darmian
era deslocado à esquerda. O time sentiu. Abate, como sempre, foi apático no
ataque, demonstrando costumeira falta de qualidade. Com De Rossi na proteção e
cobertura aos zagueiros, Abate teria mais liberdade para avançar, para jogar
como ala, mas acabou limitando-se a defender. Darmian, que com os amistosos
pré-copa provou seu valor e se tornou um dos destaques da equipe, não conseguiu
render no lado esquerdo, deixando a desejar defensiva e ofensivamente.
Para
enfrentar o Uruguai, a escolha do treinador, que não contava com De Rossi, foi
colocar a equipe num 5-3-2. Bonucci, Barzagli e Chiellini formaram a zaga, com
Pirlo mais recuado, Darmian voltando à direita e De Sciglio atuando pela
esquerda. No meio, Verratti voltara ao time e Marchisio jogou mais
centralizado. A mudança mais sentida (e estranha) veio no ataque. Candreva deu
lugar a Immobile. A equipe jogaria com dois centroavantes tendo Balotelli um
pouco mais recuado. Com tal formação, o pecado da Itália foi limitar-se a
defender, recuando ainda mais com a entrada de Parolo no intervalo, colocando o
time no 5-4-1. Abdicada do ataque tanto pelo meio quanto pelas laterais, com um
jogador a menos – Marchisio expulso no segundo tempo - e com o cansaço do time
pela intensa marcação, o gol de Godín, mesmo a quase 15 minutos do final do
jogo, foi castigo irreversível.
|
Buffon após a derrota ante o Uruguai (foto: Getty Imagens, retirada de Espn.uol.com.br) |
2 – Excesso de confiança
Vencer
a Inglaterra com os pilares do time fazendo a diferença, com um bom jogo
coletivo e com o Uruguai sendo derrotado, inevitavelmente trouxeram mais
confiança à equipe. No papel, o jogo mais difícil já passou. Contra os
latino-americanos era só questão de administrar. Pois é, administrar. O time
não chegou nem perto de jogar o que jogou ante a Inglaterra. O que se via em
campo era um jogo lerdo e passivo de quem sabia que a qualquer momento venceria
o jogo. Balotelli perdeu duas boas chances, uma cara a cara com o goleiro. O
gol sairia a qualquer momento, era a impressão. Não de todos, mas dos
italianos. E o gol saiu... Da Costa Rica, no final do primeiro tempo. A Itália
se abateu. O segundo tempo todo pela frente não foi o suficiente para o time
demonstrar algum poder de reação.
3 – Do excesso de confiança
à falta dela
Para
a ‘decisão’ contra o Uruguai, Prandelli apostou em um esquema defensivo.
Jogando no 5-3-2 e jogando com uma estranha dupla de centroavantes, Balotelli e
Immobile, a ordem era fazer o que a Itália tradicionalmente faz bem: defender.
A estratégia deu certo no primeiro tempo. A equipe não criava, não assustava,
mas marcava fervorosamente. Pouco foi ameaçada. Só mais 45 minutos para a
classificação. Dolorosos 45 minutos. O segundo tempo começou com Parolo no
lugar de Balotelli. Mais um volante, mais marcação. A equipe se segurava como
podia. O Uruguai pouco chegava e quando conseguia, lá estava Buffon. Mas aos 14
minutos, de forma totalmente estabanada, Marchisio, destaque do primeiro jogo,
sola Arévalo Rios na frente do árbitro e é expulso. Começava o desespero. Com
um a mais o Uruguai partiu todo ao ataque. A Itália, fechadinha como time
pequeno desde o começo, recuara ainda mais. Até que aos 36 minutos, Godin testa
um escanteio de Suárez para o gol. Bola no canto, indefensável a Buffon. Neste
momento, morria a Itália. Sem forças e com um a menos, sequer assustou em seus
últimos suspiros. Melancolicamente, se despedia mais cedo, mais uma vez.