terça-feira, 24 de junho de 2014

O melancólico adeus de um tetracampeão Mundial

Depois da vexatória campanha na África do Sul, em 2010, quando foi eliminada na primeira fase da Copa em um grupo teoricamente fácil (Eslováquia, Nova Zelândia e Paraguai), a sempre favorita e pragmática seleção da Itália chegou ao Brasil com a responsabilidade de mostrar que a má campanha de 2010 fora apenas um acidente já superado com a boa campanha na Eurocopa 2012, onde terminou como vice-campeã derrotada pela, até então, imbatível Espanha.

Para 2014, a vida da tetra campeã mundial não seria das mais tranquilas. O sorteio, realizado em São Paulo, pôs o time de Prandelli de frente com os ingleses e os uruguaios, já consagrados com a conquista do título mundial, e a descartada equipe da Costa Rica, julgada como provável saco de pancadas do grupo.

O início foi o mais promissor possível. Com a vitória sobre a Inglaterra e a derrota do Uruguai para a Costa Rica, o que poderia dar errado? Tudo. Derrotas para Uruguai e Costa Rica nos jogos seguintes, ambas por 1x0, selaram um amargo terceiro lugar no grupo e mais uma eliminação precoce da Azzurra em Copas do Mundo.

O que deu errado dentro de campo?

1 – Três jogos, três times

Contra a Inglaterra, Prandelli apostou no 4-1-4-1. Com De Rossi na proteção à zaga, Candreva e Marchisio mais abertos pelas pontas e Darmian e Chiellini fazendo as laterais, o time mostrou consistência. Candreva, Marchisio e Balotelli davam trabalho aos ingleses. Darmian apoiava bem pela direita, coberto por Verratti, enquanto na esquerda, Chiellini ficava mais recuado, liberando Marchisio e Pirlo para se apresentarem mais ao ataque. O esquema deu certo. Os sustos ficavam apenas por conta do zagueiro Paletta, o mais irregular da equipe na partida.

No confronto versus a Costa Rica, Thiago Motta entrou no lugar de Verratti, sendo esta a única mudança no meio. Com características mais defensivas e menos mobilidade, tornou Verratti uma ausência sentida. O 4-1-4-1 se manteve. As principais mudanças vieram na primeira linha. Chiellini foi deslocado à zaga, fazendo dupla com Barzagli. Nas laterais, Abate assumia a direita enquanto Darmian era deslocado à esquerda. O time sentiu. Abate, como sempre, foi apático no ataque, demonstrando costumeira falta de qualidade. Com De Rossi na proteção e cobertura aos zagueiros, Abate teria mais liberdade para avançar, para jogar como ala, mas acabou limitando-se a defender. Darmian, que com os amistosos pré-copa provou seu valor e se tornou um dos destaques da equipe, não conseguiu render no lado esquerdo, deixando a desejar defensiva e ofensivamente.

Para enfrentar o Uruguai, a escolha do treinador, que não contava com De Rossi, foi colocar a equipe num 5-3-2. Bonucci, Barzagli e Chiellini formaram a zaga, com Pirlo mais recuado, Darmian voltando à direita e De Sciglio atuando pela esquerda. No meio, Verratti voltara ao time e Marchisio jogou mais centralizado. A mudança mais sentida (e estranha) veio no ataque. Candreva deu lugar a Immobile. A equipe jogaria com dois centroavantes tendo Balotelli um pouco mais recuado. Com tal formação, o pecado da Itália foi limitar-se a defender, recuando ainda mais com a entrada de Parolo no intervalo, colocando o time no 5-4-1. Abdicada do ataque tanto pelo meio quanto pelas laterais, com um jogador a menos – Marchisio expulso no segundo tempo - e com o cansaço do time pela intensa marcação, o gol de Godín, mesmo a quase 15 minutos do final do jogo, foi castigo irreversível.

Buffon após a derrota ante o Uruguai (foto: Getty Imagens, retirada de Espn.uol.com.br)

2 – Excesso de confiança

Vencer a Inglaterra com os pilares do time fazendo a diferença, com um bom jogo coletivo e com o Uruguai sendo derrotado, inevitavelmente trouxeram mais confiança à equipe. No papel, o jogo mais difícil já passou. Contra os latino-americanos era só questão de administrar. Pois é, administrar. O time não chegou nem perto de jogar o que jogou ante a Inglaterra. O que se via em campo era um jogo lerdo e passivo de quem sabia que a qualquer momento venceria o jogo. Balotelli perdeu duas boas chances, uma cara a cara com o goleiro. O gol sairia a qualquer momento, era a impressão. Não de todos, mas dos italianos. E o gol saiu... Da Costa Rica, no final do primeiro tempo. A Itália se abateu. O segundo tempo todo pela frente não foi o suficiente para o time demonstrar algum poder de reação.

3 – Do excesso de confiança à falta dela

Para a ‘decisão’ contra o Uruguai, Prandelli apostou em um esquema defensivo. Jogando no 5-3-2 e jogando com uma estranha dupla de centroavantes, Balotelli e Immobile, a ordem era fazer o que a Itália tradicionalmente faz bem: defender. A estratégia deu certo no primeiro tempo. A equipe não criava, não assustava, mas marcava fervorosamente. Pouco foi ameaçada. Só mais 45 minutos para a classificação. Dolorosos 45 minutos. O segundo tempo começou com Parolo no lugar de Balotelli. Mais um volante, mais marcação. A equipe se segurava como podia. O Uruguai pouco chegava e quando conseguia, lá estava Buffon. Mas aos 14 minutos, de forma totalmente estabanada, Marchisio, destaque do primeiro jogo, sola Arévalo Rios na frente do árbitro e é expulso. Começava o desespero. Com um a mais o Uruguai partiu todo ao ataque. A Itália, fechadinha como time pequeno desde o começo, recuara ainda mais. Até que aos 36 minutos, Godin testa um escanteio de Suárez para o gol. Bola no canto, indefensável a Buffon. Neste momento, morria a Itália. Sem forças e com um a menos, sequer assustou em seus últimos suspiros. Melancolicamente, se despedia mais cedo, mais uma vez.

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